Como iniciei este blog no dia do aniversário de Emily Dickinson – 10 de dezembro – não tive a oportunidade de anunciar e compartilhar produções bibliográficas acerca da poeta publicadas ao longo dos últimos 12 meses. No entanto, 2018 foi um ano produtivo para os estudos dickinsonianos, então decidi elaborar uma breve retrospectiva de algumas de publicações que merecem destaque.
Destaque de Janeiro
Whitman & Dickinson: A Colloquy (Iowa Whitman Series)
Editado por um nome de peso dos estudos dickinsonianos, Cristanne Miller (A Poet’s Grammar, Reading in Time, Emily Dickinson’s Poems: As She Preserved Them) e outro igualmente importante quando o assunto é a obra de Walt Whitman, Éric Athenot (autor da primeira tradução para o francês de “Leaves of Grass”), este volume estabelece-se como primeiro esforço acadêmico em grande escala de mapear e estabelecer possíveis trânsitos entre os escritos dos dois poetas estadunidenses. Sinopse:
Whitman & Dickinson é a primeira coleção a reunir ensaios originais de acadêmicos europeus e norte americanos conectando diretamente a poesia e as ideias de Walt Whitman e Emily Dickinson. Os ensaios apresentam interseções entre essas grandes figuras atravessando diversos campos de estudo, ensaiando tópicos estabelecidos a partir de novas perspectivas, abrindo áreas de investigação inteiramente novas, e oferecendo novas informações sobre as vidas, o trabalho e a recepção de Whitman e Dickinson.
Destaque de Maio:
Women Studies: Vol. 47, No3: Emily Dickinson and Others
O famoso periódico Women’s Studies, dedicado a estabelecer um “fórum de apresentação de pesquisa e crítica sobre mulheres nos campos da literatura, história, arte, sociologia, direito, ciência política, economia, antropologia e ciência”, publicou uma edição com o tema “Emily Dickinson and Others”, reunindo artigos de Renée Bergland, Claire Nashar, Maria Rusanda Muresan, Midori Asahina, Kylan Rice, Annelise Brinck-Johnsen e Marissa Grunes além de resenhas.
Destaque de Outubro
After Emily: Two Remarkable Women and the Legacy of America’s Greatest Poet
O livro de Julie Dobrow causou polêmica antes mesmo de chegar às livrarias, ainda na etapa do pré-lançamento. Embora elogiado por resenhistas do Washington Post, do Wall Street Journal e da The American Scholar, o livro foi criticado pela gigante dos estudos dickinsonianos Martha Nell Smith no grupo da EDIS no Facebook:
Martha Nell Smith: As mentiras contadas sobre Susan Dickinson neste livro são um grande problema.
P: Ainda não cheguei nesta parte, mas vou ficar atenta. Ela agora está falando sobre o possível medo que Susan tinha de engravidar e que ela evitava o sexo. Mas ela diz que essa seria uma “possível razão”, mas sem certeza, para o Austin ter saído de casa. E também a “superficialidade” dela vem da perspectiva do Austin…. até agora.
MNS: Lembre-se que a Mabel foi uma fonte para isso. Medo de sexo e de ter filhos aos 45 anos? Por favor. E também, ler as cartas da Susan e do Austin é algo que muitos acadêmicos que pendem para o lado da Mabel parecem nunca ter feito. Lembre-se que a “perspectiva do Austin” é segundo a Mabel. Ele queria que a Susan cuidasse dele quando ele estava morrendo, não a Mabel.
P: Obrigada pelos seus lembretes. O ponto de vista é crucial para entender, eu concordo” A Mabel e o Austin precisaram racionalizar muita coisa para continuar o caso extraconjugal deles, então eu entendo. Mas é interessante ver as coisas através dos olhos da Mabel. Eu nunca me foquei nisso antes. Uma nova reviravolta.
MNS: Lembre-se que para obter a perspectiva do Austin você precisa ler as correspondências dele com a Susan, além das com a Mabel. Ele tratava a Mabel como a amante. Foi por isso que ele “se esqueceu” de assinar qualquer documento doando a propriedade para Mabel. Ele amou a Susan até o fim, como muitos maridos e parceiros que têm relações extraconjugais fazem.
P: Onde posso ver as correspondências dele com a Susan?
MNS: Na Houghton Library. Eu transcrevi uma boa parte e as utilizei na biografia que estou concluindo sobre a Susan. Pense bem, entre os seus amigos ou conhecidos, você confiaria na amante na forma como ela caracteriza a esposa? A amante precisa justificar sua traição de, neste caso, uma amiga próxima. A Mabel estava sofrendo com os flertes e traições do marido dela, David. Austin e Susan tinham acabado de perder o pequeno Gib. Frequentemente, casos extraconjugais se iniciam após tragédias desta espécie. E também, é absurdo sugerir que a Mabel ficou mais aborrecida com a perda do Gib do que a Susan. ABSOLUTAMENTE absurdo. Ou que ela sentiu a perda da Emily mais do que a Susan, ou que ela entendia a Emily, que se recusou firmemente a conhecê-la, do que a Susan.
P: Martha, para quando podemos esperar o seu livro?
MNS: Pretendo publicar no início de 2020. Eu estou verificando as fontes de tudo que eu escrevi mais uma vez. E também, não quero que o livro sobre a Susan seja enquadrado pelo preconceito e ódio que tantos tiveram por ela, incluindo o Sewall (eu tenho uma carta particular dele para um leitor em 1977 que sustenta essa afirmação), e de um biógrafo recente. Lyndall Gordon foi a mais justa com a Susan.
P: Eu amo o livro da Gordon, mesmo com as menções à epilepsia. Obrigado por responder.
MNS: Sim, a Gordon fez o dever de casa e retornou para corrigir erros, o que atrasou a publicação. A editora teria ido adiante com os erros, mas ela foi escrupulosa. E ela deixa claro que a epilepsia é especulação dela.
P: Muito clara e eu me lembro que muita gente surtou com isso, sendo que ela deixou claro. Ainda assim, é uma especulação interessante.
MNS: Sim, é uma especulação viável. Afinal, o Ned era epiléptico, então não é impossível. Eu não acho que isso era necessário, mas ela se comprometeu com isso e eu acho que ela construiu um argumento plausível. Eu só acho que não faz muita diferença se Dickinson era epiléptica ou não.
P: Um livro fascinante. Certos poemas de fato descrevem um “talvez” plausível.
MNS: Sim, é por isso que eu não desacredito da teoria completamente. Eu acho que a raiva real contra a Gordon foi por ela ter exposto a Mabel como desonesta, etc.
P: Mas aí as pessoas não lembram dos ataques… certo. Eu acho que a Cynthia Nixon fez uma pesquisa considerável sobre o tema. Eu odiei aquele filme.
MNS: Acho que uma atriz tem que seguir o diretor, mas aquele filme é sobre o Terence Davies, não sobre a Emily Dickinson. Foi horrível. Wild Nights with Emily é maravilhoso!
P: Estou ansioso para assisti-lo.
MNS: Vai ser lançado comercialmente em janeiro!
Pretendo compartilhar uma resenha do livro até o final de janeiro aqui no blog. Sinopse:
A história que não foi contada da mãe e filha extraordinária que lançou luz sobre a genialidade de Emily Dickinson.
Apesar do renome internacional de Emily Dickinson, a estória das duas mulheres mais responsáveis pela sua publicação póstuma inicial – Mabel Loomis Todd e sua filha, Millicent Todd Bingham – permaneceu nas sombras dos arquivos. Um retrato completo e convincente de mulheres que se recusaram a serem confinadas aos padrões sociais da sua época, After Emily explora a ligação complexa de Mabel e Millicent, assim como o potente legado literário que elas compartilhavam.
O relacionamento complexo de Mabel com os Dickinson – incluindo uma relação extramarital com o irmão de Emily, Austin – perturbou a pequena cidade de Amherst, Massachusetts. Após a morte de Emily, a conexão de Mabel com a família e sua reputação como uma mulher inteligente, artística e diligente a levaram ao enorme tesouro de poemas que Emily deixou para trás. Assim começou a tarefa hercúlea de transcrever, editar, e promover a obra de Emily, uma tarefa que consumiria e complicaria as vidas tanto de Mabel como de sua filha. Conforme a popularidade dos poemas cresceu, questões legais surgiram entre as famílias Dickinson e Todd, expondo seus escândalos: o caso, a propriedade sobre a poesia de Emily e o direito de definir a “Bela de Amherst”.
Utilizando centenas de cartas e diários ignorados para entrelaçar as estórias de três mulheres incontíveis, Julie Dobrow explora a intriga dos primórdios literários de Emily Dickinson. After Emily lança luz sobre a importância das primeiras edições da obra de Emily – incluindo as decisões editoriais polêmicas que foram tomadas para introduzir seu gênio singular ao mundo – e revela o impacto surpreendente que Mabel e Millicent exerceram sobre a poeta que conhecemos hoje.
The Emily Dickinson Journal
Não posso de destacar também a edição mais recente (V. 27, N.º1) do Emily Dickinson Journal, editado atualmente por James Guthrie.
Feliz Ano Novo a todos e até 2019!